segunda-feira, novembro 02, 2009

Crítica: por Erwin Jonathan Rommel

Sobre “mal que se quis”

Aquele dos contos muito loucos, por vezes íntimos, algumas vezes críticos (que eufemismo!) e, no geral, revelador de mentes que se enrolam sobre si mesmas ao tentar compreender os eventos que acontecem ao seu redor e criam novas perspectivas que parecem invisíveis a tantas outras? Eufemismo dizer que algumas vezes são críticos, já que isso significa apenas que nem todos os contos são declaradamente críticos.

Eu adorei o “Joça”. Esse conto apresenta uma confusão do íntimo da psique de uma pessoa já meio perturbada, mas que ainda vê alguma cor na vida. Gostei porque não pude imaginar que “Joça” era uma pintura. Que fantástica imaginação! No processo de escrita, provavelmente esse foi o ponto de partida, mas o leitor não pode saber disso. E se, no mundo da criação, a autora é o “Joça”, temos a pergunta: quem é a pessoa que tanto ama o "Joça"?

A história é quase uma inversão do amor idealizado Romântico! Que loucura literária! As qualidades do amado, mais do que nunca, são postas unicamente pelo amante, são vistas unicamente pelo amante em seu mundo particular. É um amor pelo vazio, pelo desconhecido, pois não se pode amar dessa forma uma pintura. Ou pode-se?
É possível amar qualquer coisa e, nesse caso, o nada também é uma coisa.

Contraditório, mas real. Afinal de contas, o amor é um sentimento. E o que é um sentimento? Em geral, não se ama o vazio, mas um ideal. O “Joça” é o vazio, já não é nada e isso sela seu destino de ser apagado. Mas, para o amante, o “Joça” é um ideal! Prontinho para amar. Só que existia a imagem dele, e era nessa imagem que o personagem focava seu amor.

Por isso eu digo que o livro fala sobre consciências enrolando-se sobre si mesmas para tentar entender e afetar os eventos que à sua volta acontecem e que seu íntimo modificam. Algo assim. Meu Deus, eu estudo literatura e isso está me afetando! Surge uma análise literária de uma conversa de Messenger! Nesse contexto, chama-me a atenção a citação de Suelen: Enquanto grito o silêncio mudo. O grito silencioso... Isso me faz lembrar uma das minhas pinturas favoritas (se não A favorita): O Grito.

Como a capa do livro “mal que se quis”: silêncio, um quadro congelado de um grito desesperado, final. E a capa ainda tem a figura de cabeça para baixo, o que dá um toque a mais e volta à questão das mentes enroladas. Viradas. Enlouquecidas. Enfim, as artes plásticas não são minha área, mas eu diria que a cor branca, normalmente associada a paz e tranquilidade, acaba contribuindo para enfatizar o desespero da imagem.

E as fotos dos autores comemorando no fim do livro também permitem uma leitura interessante em associação com o título da obra. Algo como "sei que está errado, posso estar me ferrando, mas, quem se importa? Estou curtindo e bebo a isso!" É uma interpretação possível. Só que achei pobre. Sou um crítico pobre.

Adendo da escritora do livro: O Erwin ainda vai encontrar uma interpretação à altura de sua capacidade intelectual. Nós tememos esse dia.

2 comentários:

Fred Paiva. disse...

vontade de jogar o erwin contra a a parede e dar-lhe um banho de vinho tinto!

esse garoto é fódego!

Grupo Colher de Pau disse...

Joça é brilhante! Dei de presente pra alguém MUITO foda el livreto.