quinta-feira, fevereiro 18, 2010

Por imobilidade

Doze dias – não dez, nem uma semana, nenhum simbolo inserido para desfrute da numerologia – quase imóvel por grandes períodos de tempo, sendo servida à ela a janta, o desjejum e o almoço, sem seguir a ordem das horas – e que horas? - servindo-se deles e de água, enquanto em pensamento maldizia o mundo, observando não-formas na forração branca, limpando o nariz com as costas da mão, dormindo – irônicas doze horas por dia - foram seu recorde. Nunca mais deitou à bergère pronta para se afogar no pensamento inconstante acerca do nada. Nem mesmo foi à sala. Passou a evitar estofados, passou a dormir em redes.

Inóspita conclusão fora escrita no papel da conta de gás. Lá, confusas palavras que explicavam o quê de sua pouca vontade pela vida. Não só dela, se soube, mas de qualquer que se agarre à solidão – e não os relegados à ela pela circunstância.

Era, deixou de ser no décimo terceiro dia. Uma dor aguda na coluna, palavras desparelhadas – ciência dos que lá estavam, a sala de seu apartamento cheia – e ela se ergueu dizendo que tomaria banho – ou algo assim.

Fez-se tempo de retorno, e como à um filho prodigo que nunca saiu à rua, ela foi recebida com abraços e certa cerimonia – a exclusão – e não voltou a sala. Nunca pagou a conta de gás daquele mês.

Ficou tardiamente alquebrada por sua “parada dos doze dias”. Foi inclusive diagnosticada com algum tipo de psicose de nome russo. Teve sonhos com aquele nome, um homem de barba mal-feita, visão aguçada, e que comia mel por seus dedos. Tomou vários remédios – intercalando suas cores aos eletrodomésticos da cozinha, em ordem – digerindo com eles a preocupação que vinha de sua família, martelando suas paredes.

Essa garota esteve tão perto da verdade, que voltou de lá correndo. Abraçou a vida com a intensidade aceitável, marchou pelo direito das iguanas, falou sobre seu problema num jornal local. Distribuiu panfletos contra a camisinha, contra o aborto – querendo acreditar neles, cada vez que os entregava – e contra os abraços grátis.

Enquanto tentava ligar suas ações à qualquer sentido, e não alcançava, ficava aliviada. Dado momento, o escuro tomaria sua sala, toda a sua casa. Ela não mexeria nada de seu lugar.

Um comentário:

Fred Paiva. disse...

meopaodeóculos!


ótemooooooo

sem oq te dizer, lindo lindo!