sexta-feira, julho 31, 2009

A ironia frágil

Eu queria morrer e pensava nisso. Tinha babatas fritando sobre o fogão, atarefada com as ideias que me assaltavam – tão súbitas, que me faziam esquecer as batatas – e quando voltava a mim, me acertava o cheiro de gordura queimada. Na ânsia de salvar poucas batatas que ainda não haviam dourado ao extremo, eu puxava a frigideira com a agilidade. O óleo quente pulava com certa graça, e acertava em cheio minha mão.

Então eu queria morrer, pensava, quero morrer. Perdia as ideias tão subitamente quanto as tive, e ganhava bolhas, como prêmio de consolação. A dor ardida acordava meus sentidos para a ação, eu fritava outras batatas, após limpar o fogão.

Voltava meus pensamentos para outros afazeres, e descobria sempre haver muitos.

As cores do mundo se colapsavam diante dos meus olhos, meu corpo junto com elas. Eu perdia os sentidos depois de tentar mover, por horas, o sofá de seu lugar. Sem amparo, obrigava meu olhos a se focarem e meu corpo a se mexer. Então, outra vez, pensava que queria morrer. Pois almas não trocam sofás de lugar. Elas nem têm lugar.
Assim, quando me vi ociosa uma tarde, busquei as ideias que perdi. Comecei rememorando sons, cheiros. Nomes. Haviam tantos nomes. Nomes que eu associava a uma vontade de viver que quase não acreditava ter sido minha.

Eu queria morrer e pensava que isso me salvaria de tudo. Inclusive de sofrer por ter lembranças.

Teve esse dia, quando tão súbito quanto ideias me vinham, tão forte como quando os sentidos falhavam, minha temperatura subiu para 39ºC e tossia como se tivesse expulsando minhas tripas. Desamparada, como sempre, alienada e enfraquecida, sentei no sofá da sala, que estava no mesmo lugar de sempre e fiquei. Não esperei a morte, nem sabia que ela vinha. Eu queria morrer, não me tornar estatística.

Um comentário:

Fred Paiva. disse...

gripe porcinaaaa


hauhauha

ótemo!

PS: vc frita batatas em frigideira? isso só é pra queimar a mão e sujar fogão mesmo né!!!