terça-feira, julho 28, 2009

Tic Tic Tic

Resposta ao conto Tic Tic Tic, de Fred Paiva, no blog http://azulbananafosca.blogspot.com - na verdade uma continuação dele. Sim, apropriação de ideia alheia...

Mario Sérgio tinha dois problemas rotineiros em sua vida (e não contabilizava numerar sua vida como um deles): o som de pigarro do motorista da van com a qual vinha ao trabalho, e o constante tic tic tic arranhado, feito com a bunda da caneta sobre a superfície do bloco de notas de sua colega de trabalho.

O pigarro ele fazia ignorar com fones de ouvido e música alta – não percebendo que gemidos ritmados escapavam de sua boca durante o percurso, e quanto isso incomodava outros passageiros – e tudo ficava bem. Mas aquele método não poderia ser empregado durante o trabalho. Enquanto ela atendia o telefone. Durante as oito horas de tortura em que ela compunha um concerto disparatado e arrítmico, com a bunda daquela bic infernal. Já pensara em processar o fabricante, mas era óbvio que em nada daria. Já pensara em arremessar o peso de papel na cabeça da infame, observar o sangue jorrando, e alcançar a caneta para com a bunda dela friccionar ainda mais o ferimento, buscando um som que lembrasse o tic tic tic, enquanto gritaria numa imitação ainda mais fanha que era naturalmente a voz da mulher, casadasferramentasclaudeteBOATARDE! Bem em seu ouvido, até ela ficar surda, suja de sangue, e com sorte, morta.

A morbidade de seus pensamentos o assustava, às vezes.

Então ela o olha de soslaio, ajusta aqueles úberes avantajados no decote desarmônico, e sorri numa tentativa de graciosidade que não sai da tentativa.

Emprestaumacaneta, Mario Séérgio?

Por todos os demônios, a dela estourou!

Tic tic tic, ele ouve o som que ela faz aguardando a resposta; as mãos delas manchadas de azul, assim como o bloco de notas, parte do seu rosto, e, para total espanto de Mario Sérgio, um significante pedaço da manga da camisa branca dele.

A morbidade de seus pensamentos já não o espantou. Tic tic tic, era o som de sua paciência sumindo, enquanto sentia o peso de papel dentro do punho cerrado.

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