Ela tinha um sorriso triste. Você conhece pessoas assim e deve achá-las boas, simpáticas, solidárias. Você se pergunta o que faz uma pessoa sorrir, quando as vê; tem tanta dor em seus olhos, seus corpos parecem sofrer muito mais a gravidade, mas elas continuam sorrindo. E você corresponde o sorriso, você já sofreu um dia mas sabia que tinha que passar, que iria passar, pensava em tempos mais amenos e sorria para os outros no trabalho. Dizia bom-dia e não o tinha. Mas o sorriso triste dela era diferente, foi o que notei sem querer notar.
Ela estava sentada numa mesa perto da minha num café qualquer, numa manhã ordinária. Notei que tinha um livro meu em mãos, foi isso que me chamou atenção. Era uma moça comum, sem esforço. Parecia igual a tantas, mas estava lendo um livro que tinha meu nome na capa, e minha foto na orelha, então quando ela me olhou imaginei que me reconheceria. Não pareceu. Ainda que o olhar viesse acompanhado daquele sorriso triste.
Eu sorri de volta, um tanto entusiasmado, mas o contato não foi mantido. A moça voltou ao seu livro, ao meu livro, e com essa boa sensação de ainda estar em seus olhos pedi meu café.
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