Nos olhos de Odara, eu vi o desejo criando formas instáveis de paixão. Paixão louca. Paixão dura. Paixão de dezenove centímetros e meio; naqueles olhos de mel, que quem comer enfarta.
Era para meu corpo que ela olhava. Abria minha camisa amassada com suas longas pestanas; cobria meus pêlos eriçados de seu mel ardoroso. Eu ardia.
Ardia de pavor. Queria sair gritando, rasgando a seda, que fazia vez de cortina para a sala contígua. Correr ameaçando a altos brados, “bando de bicha sem sentido nessa vida!”. Sair dali sem pretensão de voltar.
Mas vocês precisam entender que eram os olhos de Odara. A sílfide infame da ala leste daquele prédio em ruínas, onde todo o morador tinha sexualidade duvidosa, e dúzias de echarpes coloridas. Ela era o deserto. Mas oferecia oásis que eu não poderia negar.
Mesmo convicto de minhas opções, eu não podia arrefecer.
Estava cansado de viver as distinções conhecidas. Queria o prazer mais intenso, a dor mais incisiva, uma realidade que me oprimisse na manhã seguinte.
Pus um pé ante o outro, preparado. Começando pelo mel dos olhos, fui me servindo da boca. Logo meu corpo estava Odara.
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