sexta-feira, maio 09, 2008

Infalíveis

Sucção – Parte II


Mateus, o mais espirituoso de nós todos, era dono de uma peça rara: Um eurrítmico, porém pouco usado, cadafalso. O tinha no centro de uma sala espaçosa em sua mansão.

Quis por muitos anos usá-lo, em apreciação às vidas que o objeto tirara no passado. Engenhoso, colocou seu cadafalso à disposição de qualquer um que quisesse uma morte conceitual e peremptória.

Uma tempestade de mensagens on-line quase o pôs em prantos de tanto rir. Filtrou os candidatos por características que o agradavam – péssima constituição física, falta de amor na vida (a sua preferida!), rejeição.

Depois de várias trocas de e-mail, Elaine, 130kg, 29 anos, nenhum casamento, nenhum namorado, expulsa de casa pelos pais aos 16 anos, apareceu, arredia, na mansão de Mateus. Conversaram banalidades, beberam - ele impassível, ela relaxando – sem se aterrem demais ao que os trazia ali.

Duas horas depois Elaine se debatia pendurada pelo pescoço, gemendo seu adeus à existência física.

Mateus subiu o cadafalso, tomou a boca arroxeada do cadáver entre seus lábios, e declarou seu amor incorruptível àquela imagem.

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